Veja cinco letristas que trouxeram poesia para o rock
A ideia de que o rock é uma música pobre e escassa em ideias perseguiu o gênero por muito tempo. Sim, é verdade que boa parte das letras do estilo estão longe de ser consideradas alta literatura, e, muitas vezes, parecem servir apenas de adereço para a canção.
Mas houve aqueles que tentaram trazer maior profundidade para o seu texto, e isso, desde o começo, Chuck Berry fazia intrincados jogos de palavras em suas canções, e como ignorar John Lennon, Paul McCartney, Ray Davies dos Kinks, Smoley Robinson, Nick Cave, Elvis Costello ou, para citarmos um nome mais recente, Alex Turner dos Arctic Monkeys? Todos letristas de grande inventividade.
A lista abaixo relembra alguns nomes que trouxeram mais reflexão, poesia e influências da literatura para o rock.
Bob Dylan
Dylan foi o primeiro letrista identificado com o mundo do rock a ganhar o Nobel de Literatura – em 2016. E a honraria só poderia mesmo ter sido dada a ele, que mostrou o caminho para centenas e centenas de compositores que vieram depois. Dylan começou no folk de protesto, cantando acompanhado apenas de um violão e gaita sobre os grandes problemas sociais que afligiam os americanos, e não só eles.
Nas décadas seguintes, ele abraçou inúmeras outras personas: ele foi surrealista, romântico, autor de canções extremamente simples, gospel, reflexivo, misterioso e também incisivo. Aos 79 anos ele continua impressionando, como o seu mais recente álbum “Rough and Rowdy Ways”, comprova.
Lou Reed
O americano trouxe para o rock influências da grande literatura, com especial carinho pelo lado mais marginal dela. Reed, morto em 2013 aos 71 anos, gostava de cantar o submundo e dar voz aos marginalizados da sociedade, sempre de forma seca e direta. Não à toa ele acabou se tornando um precursor do movimento punk ainda nos anos 60 quando liderava o Velvet Underground. Assim como Dylan, ele teve as suas letras reunidas em livro (também em edição brasileira) e ali pode-se ver que uma enorme parte delas sustenta-se sem a necessidade do acompanhamento musical.
Leonard Cohen
O canadense morto em 2016 aos 82 anos, acabou caindo na música ao descobrir que provavelmente ganharia mais dinheiro nesse meio do que no mundo da literatura. Tanto que ele já tinha cinco livros publicados antes de seu primeiro disco chegar às lojas em 1968. Se Dylan não tem problemas para em poucos minutos escrever letra de grande força, Cohen era o seu total oposto – ele podia passar dias (e até anos) trabalhando em alguns poucos versos. O trabalho duro certamente compensou, já que ele deixou como legado uma obra de enorme força lírica e nas mais diversas facetas – há o Cohen mórbido, o romântico, o político, o bem-humorado e também o melancólico em uma obra relativamente curta, 15 discos de estúdio incluindo um póstumo, mas de grande qualidade.
Joni Mitchell
Também do Canadá, Mitchell é caso raro de artista que se mostra uma letrista excepcional e, ao mesmo tempo, uma compositora e musicista virtuosa – ela criou um estilo único de tocar violão, usando afinações fora do comum e trabalhou com grandes nomes do jazz. Seu maior trunfo foi trazer um olhar feminino para um mundo que era predominantemente masculino e machista. Nesse sentido, o álbum “Blue”, de 1971 é o seu trabalho mais forte e influente, por mostrar a cantora se desnudando para o público como poucas vezes se viu. Ela mesma preferiu abandonar essa linha de trabalho nos anos seguintes, quando passou a explorar outros estilos de escrita para adornar a sua música.
Cazuza e Renato Russo
Difícil saber quem foi o maior e mais importante letrista a surgir no Brasil dos anos 80. O fato é que Renato Russo e Cazuza tinham muito em comum, e é uma pena que os dois tenham morrido jovens (Cazuza em 1990 aos 32 anos, e Russo em 1996 com 36) e também vitimados pelo HIV.
Os dois tinham talento nato para criar letras de enorme força e beleza. Mais importante, eles também sabiam ser acessíveis, atingindo pessoas das mais diversas classes sociais e idades. Não à toa a obra deles ainda reverbera no século 21.
Se Cazuza era mais lírico e sofisticado, Russo sabia ser mais direto e tinha um grande talento para se fazer ouvir por milhões de jovens que conseguiam se ver representados em suas letras. É uma pena que eles não tenham vivido mais, porque além do enorme vácuo que deixaram na nossa música, teria sido fascinante ver a produção deles na maturidade e como eles iriam retratar o Brasil do século 21.
Fonte: Vagalume