Wander Wildner volta com disco de inéditas
Wander Wildner não é mais punk, deixou de ser brega e largou de vez os inferninhos enfumaçados onde se detona o hardcore às 3h da manhã. Até o clássico Bebendo Vinho, pasme, não frequenta mais seu repertório. Então, quem é o Wander Wildner que acaba de lançar Mocochinchi Folksom, sétimo disco solo de um dos mais proeminentes músicos gaúchos de sua geração?
Da boca do próprio Wander, porém, essa resposta não virá. Por telefone, sem qualquer traço de animosidade, ele diz que não quer dar entrevistas. Não tem mais um pingo de vontade de explicar seu trabalho ou suas motivações.
– Eu gravei o disco, as pessoas podem ouvi-lo no site e comprar, mas não quero ficar falando a respeito – justifica.
Gravado no último verão em Porto Alegre, com produção de Flu e do próprio Wander,Mocochinchi Folksom consolida a aproximação com a música regional sul-americana, que começou em La Canción Inesperada (2008) e se perpetuou em Caminando y Cantando (2010). Seria essa, então, a nova persona de Wander, uma espécie de moderno trovador latino, que cruza gaita ponto e bombo leguero com guitarras?
– Wander é o verdadeiro beatnik, muda o tempo todo. Mas muda de acordo com as próprias convicções, nunca por influência externa – analisa Marcelo Ferla, jornalista e crítico musical.
Parceiro de longa data, o músico Arthur de Faria conta que, certo dia, Wander chegou e disse: “Cansei de fazer rock, agora quero fazer música”. Desde então, a preocupação é refinar sua técnica ao violão, cantar melhor e se envolver com cada etapa do processo criativo.
– O Wander é um operário, é o primeiro a chegar no local do show e o último a sair. Com o disco, foi a mesma coisa: não tem acorde que ele não conheça. É uma mudança de postura, de quem agora se preocupa com a qualidade da sua música, em como as pessoas vão ouvir as letras, receber as canções – explica Arthur de Faria.
Hique Gomez, que participa com seu violino na bela O Homem que Caminha a Noite Toda, acrescenta que o poder de comunicação de Wander com seu público não diminuiu. Pelo contrário:
– O Wander sempre teve uma relação muito forte e sincera com as pessoas, então esse amadurecimento artístico só tende a ampliar a plateia.
Mocochinchi Folksom também reforça o lado independente de Wander: lançado em CD e vinil pelo próprio selo do artista, o Fora da Lei, o disco está à venda nos shows ou pelo site oficial. Para Ferla, é o maior exemplo de autogestão de carreira – e independência artística – que um músico pode ter:
– Ele deu à carreira o tamanho que quis. Um tamanho não grande suficiente para o mainstream, mas que é respeitado em todo o país. E está cada vez melhor.
SEGUNDO CADERNO