A liberação do 5G em Porto Alegre, na semana passada, demonstrou que uma internet mais veloz no celular deve virar rotina nos pontos onde a tecnologia está disponível. Além de enviar e receber conteúdos de forma mais rápida, a rede também é capaz de apresentar menor latência – tempo de processamento das informações – do que o 4G. O bom desempenho apresentado no início da operação deve mudar o funcionamento da internet na telefonia móvel do país nos próximos anos, indicam especialistas ouvidos por GZH.
Uma das principais mudanças, que já impacta quem acessa a tecnologia, é o consumo dos dados dos planos de internet contratados pelos clientes. Conforme Rafael Kunst, professor da Escola Politécnica da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), o 5G tem potencial para gastar dados mais rápido do que o 4G, mas isso não quer dizer que a rede terá consumo maior, de forma geral:
— Se eu usar no 5G a mesma aplicação que usava no 4G, a quantidade de dados consumidos será a mesma, mas em um tempo menor. Mas (no futuro) as novas aplicações podem demandar mais dados, sim, e essa é tendência: pois elas vão usar a capacidade do 5G de processar (dados) mais rapidamente — diz.
O professor faz uma analogia para explicar a diferença entre o 4G e o 5G no tema. Como exemplo, ele cita duas pessoas que pedem o mesmo lanche em um restaurante. Na situação, o primeiro cliente demora cinco minutos para ingerir o alimento, e a segundo, 10. Nesse exemplo, ambos consumiram a mesma quantidade de calorias porque os lanches são iguais, mas um demorou menos tempo para isso. O 5G faz o mesmo, mas com dados, porque é mais veloz que o 4G.
Desse modo, de acordo com o especialista, a tendência é que o 5G seja base para o desenvolvimento de aplicações que serão pensadas para se beneficiar da velocidade, estabilidade e baixa latência da rede. Será, portanto, um ambiente de inovação similar ao ocorrido após a implementação do 3G e 4G, redes que foram responsáveis pelo surgimento e popularização de diversos serviços no celular.
O 3G, por exemplo, contribuiu para o crescimento das redes sociais, chamadas de vídeo e acesso à internet desde quando foi criada, no início deste século. O 4G ficou disponível a partir de 2010 e melhorou a qualidade dos serviços existentes e serviu, também, como base para o desenvolvimento de aplicações de transporte, de troca de mensagens e redes sociais focadas em fotos e vídeos, mais acessados pelos consumidores hoje.
Um estudo divulgado pela Ericsson em 2021 mostra que a evolução das redes impactou na demanda por dados em todo o mundo. De acordo com o levantamento, foi registrado aumento de quase 300 vezes no tráfego de dados móveis desde 2011 – ano em que o Mobility Report da empresa de tecnologia foi publicado pela primeira vez. E esse cenário deve se manter nos próximos anos, afirma o professor da Unisinos:
— As empresas e startups vão começar a explorar o 5G e as tecnologias naturalmente vão demandar muito processamento e transmissão de dados. Será uma grande diferença, e talvez o 4G não suporte muito bem a quantidade de dados demandada pelas novas aplicações.
Para Jéferson Campos Nobre, professor do Instituto de Informática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o consumo de dados da internet no celular está relacionado com o tipo de conteúdo recebido. Ele explica que o 5G tem uma taxa de transferência de dados maior do que o 4G, então pode, em um mesmo espaço de tempo, consumir mais dados, algo condicionado ao tipo de aplicativo acessado.
— Tendo a possibilidade, as aplicações transferem mais dados, o que permite que um vídeo seja de melhor qualidade, por exemplo. Em geral, ao aumentar a taxa de transferência, tem sim um maior consumo de dados, mas isso depende da aplicação — pontua.
De acordo com o professor da UFRGS, os apps desenvolvidos para o uso no 4G não terão problemas de funcionamento no 5G no início. Somado a isso, com a internet de quinta geração, com latência menor e transmissão de dados mais rápida, as tecnologias populares hoje serão atualizadas para obter melhor desempenho e potencializar os serviços disponíveis com a estabilidade esperada.
Assim, afirma o especialista, o cenário indica que operadoras e consumidores terão de se acostumar às novas situações originadas com o melhor desempenho do 5G, que deve ser diferente do que é conhecido hoje nos planos de dados contratados para acessar a internet no celular.
— Os planos (de internet móvel) vão se adequar porque a quantidade de dados de uma determinada época faz sentido com os aplicativos e a velocidade que a rede tem naquele tempo. Então, a tendência é que as operadoras se adaptem para dar conta das novas condições da taxa de transmissão de dados e dos novos apps — finaliza.
O que dizem as operadoras
Procuradas no início da tarde de terça-feira (2), até a publicação desta reportagem, apenas a Tim respondeu. Claro e Vivo ainda não se manifestaram. O espaço está aberto a respostas.
Tim
A ativação do 5G traz também novos serviços, como streamings e jogos em nuvem, cujas funcionalidades serão melhor aproveitadas na rede 5G SA da Tim. Entre os novos serviços estão navegação no Twitch, serviço de streaming de vídeo com foco em games, e que oferece transmissões de competições de eSports, além de música e outros conteúdos. Além disso, será oferecida uma plataforma de Cloud Gaming, que permite jogar sem que o usuário precise de um PC gamer ou console. Estes benefícios estarão incluídos em um pacote que será oferecido pela Tim em breve para “turbinar” os planos com mais 50GB de internet. Ele será gratuito por 12 meses, a partir da adesão nos três primeiros meses de lançamento. Após os primeiros 12 meses, o pacote custará R$20 por mês.
ZH