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Com 1.138 novos carros elétricos, vendas no RS crescem 25,19% nos primeiros sete meses do ano

No país, aumento foi de 34,46%, com 23.563 veículos eletrificados emplacados de janeiro a julho
Com 1.138 novos carros elétricos, vendas no RS crescem 25,19% nos primeiros sete meses do ano
24.08.2022 11h05  /  Postado por: mateus

Considerado o futuro da indústria automotiva mundial, o mercado de veículos elétricos emplacou no Rio Grande do Sul 1.138 novos carros nos primeiros sete meses do ano e superou em 25,19% as 909 unidades de igual período do ano passado, segundo dados da Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE).

O desempenho gaúcho ficou abaixo da média do país, de 34,46%, com 23.563 automóveis eletrificados de janeiro a julho, mas é maior, por exemplo, do que as vendas realizadas por aqui em todo o ano de 2020, de 1.043.

No ano passado, a taxa de crescimento do Estado, nesse segmento, havia sido de 81,9% — acima da nacional, que foi 77%. Para o diretor de veículos leves da ABVE, vice-presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) e diretor da montadora Audi, Antônio Calcagnotto, os números apontam que a diminuição da velocidade de ampliação do setor está diretamente ligada à estrutura de recarga e aos incentivos.

Ele lembra que o RS é um dos oito Estados do Brasil que já isentam o IPVA dos carros elétricos — assim como ParanáRio de JaneiroRio Grande do NortePernambucoPiauíMaranhão Ceará. Por outro lado, afirma, está atrasado em infraestrutura de recargas na comparação com Paraná Santa Catarina, dois dos mais avançados nesse quesito. E cobra incentivos, como a redução do IPI na fabricação dos carros elétricos.

Calcagnotto explica que a autonomia dos veículos (de 200 a quase 500 quilômetros) já não encontra dificuldades para ser abastecida diariamente nas grandes cidades, onde shoppings, hotéis, centros comerciais e residências dão conta da demanda incipiente. Os problemas de mobilidade, diz, começam nas estradas.

O executivo, que é gaúcho, conta que entre São Paulo e Porto Alegre, o deslocamento é seguro até Laguna, em Santa Catarina. Depois, a disponibilidade de opções, especificamente no Rio Grande do Sul, deixa a desejar.

— Existe uma interdependência entre o crescimento do mercado e a disponibilidade de infraestrutura de recarga. No país, algumas iniciativas tendem a acelerar o processo, mas ainda faltam incentivos — analisa Calcagnotto.

Um estudo elaborado pela Anfavea indica que até 2035, quando deverão circular mais de 3 milhões de automóveis eletrificados no Brasil, seriam necessárias 155 mil estações de recarga rápida — que utilizam corrente alternada e levam menos de 30 minutos. Hoje, com uma frota de 100 mil veículos e vendas anuais que não atingem 2% da movimentação dos 2,5 milhões de automóveis, em média, não passam de cem pontos como esses em operação. No total, somando-se às demais modalidades — as semirrápidas (de quatro a oito horas) e as lentas (de oito a 12 horas) — são 8 mil.

Nesse aspecto, recentes anúncios da Shell e também da Vibra Energia (nova controladora da BR Distribuidora) contemplam o início da instalação de opções junto aos postos de combustíveis de ambas as bandeiras. Para Calcagnotto, este é o caminho correto a ser trilhado, além dos projetos de pesquisa e desenvolvimento, financiados pelas concessionárias de energia.

Oportunidades

Israel Teixeira, diretor dos Laboratórios Especializados em Eletroeletrônica, Calibração e Ensaios (Labelo) da PUCRS, também percebe que o crescimento da frota pode estar “obstaculizado” pela falta de infraestrutura. Mas vê, com isso, muita margem para crescimento e oportunidades de negócios, sobretudo, com investimentos privados.

— Shoppings, restaurantes, estacionamentos de hotéis podem ter na oferta de recarga um diferencial para a atração de consumidores nesse momento inicial. Isso também possibilita novos modelos de negócios para startups na criação de softwares e uma gama de serviços — analisa.

Ele recorda que o Brasil atingiu recentemente a marca de 100 mil carros eletrificados emplacados. Nas grandes cidades, lembra, o uso de motos e bicicletas elétricas é cada vez mais comum, ônibus movidos a diesel estão sendo substituídos por aqueles com motor elétrico, pontos de recarga de veículo se multiplicam por estacionamentos ou pelas ruas e, para qualquer lado que se olhe, a eletrificação do transporte é uma realidade presente.

No entanto, a legislação atual ainda deixa brechas. Na portaria 819 de 2018, da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), por exemplo, a energia elétrica das estações de recarga é classificada como um serviço, portanto sujeita a incidência do ISS, tributo municipal de alíquota mais baixa do que o ICMS estadual.

Por isso, a alternativa de remuneração de capital para o surgimento de iniciativas que cobrem pela recarga (a maior parte das existentes hoje é oferecida gratuitamente pelos estabelecimentos) é um dos aspectos citados pelo professor. Ele também participa ativamente da criação de um laboratório de testagem de componentes, como os carregadores, oferecidos no Brasil dentro de padrões internacionais de qualidade e chama a atenção para a necessidade de avanços também nessa área.

Nasce uma Rota Elétrica no RS

Uma parceria entre a CEEE Grupo Equatorial e a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) gerou o projeto de pesquisa e desenvolvimento que permitirá, já em 2023, que os usuários de veículos elétricos que circulam pelo Estado possam se deslocar, com segurança de abastecimento, por praticamente todo o território gaúcho. Batizado de Rota Elétrica Mercosul — Suporte ao Desenvolvimento e Gerenciamento para Mobilidade Inteligente, o percurso é resultado de um projeto aprovado junto à Aneel e conta com recursos de R$ 18 milhões da CEEE Grupo Equatorial para ser executado pela UFSM.

A Rota Elétrica Mercosul terá 916 quilômetros e será composta de estações de recarga rápida — média de 30 minutos —, em cidades como Torres, Porto Alegre, CamaquãPelotasJaguarãoRio Grande Chuí. O objetivo é que seja possível viajar de carro elétrico até o Uruguai, que já possui uma rota bastante robusta de estações de recarga em seu território, assim como Paraná (onde está a maior eletrovia do país) e Santa Catarina.

A partir do país vizinho, também será possível chegar a Buenos Aires, na Argentina, pela travessia do estuário do Prata. Há possibilidade de interligação com o Paraguai seguindo pelas estações de recarga que já existem das Centrais Elétricas de Santa Catarina (Celesc) e da Companhia Paranaense de Energia (Copel).

A coordenadora do projeto pela UFSM, professora Alzenira Abaide, afirma que a integração é um trajeto que se conecta. Segundo ela, além do benefício ambiental na utilização de veículos elétricos, os três Estados do sul do Brasil recebem muitos turistas que vêm do Uruguai, Argentina e Paraguai em direção ao litoral.

— Vamos colocar à disposição uma rota elétrica, barateando a viagem e fazendo o turismo daqui ser ainda mais atrativo — comenta a professora.

A pretensão é instalar uma microrrede junto à estação eólica de Osório, com aerogerador e painéis fotovoltaicos. Assim, durante o dia, com sol ou vento, o processo de geração de energia se tornaria ainda mais limpo. Outra frente do projeto também analisará o impacto dos abastecimentos para rede.

Por aqui, explica a analista de operações de Pesquisa e Desenvolvimento da CEEE Grupo Equatorial, Ilana Franca dos Santos, as estações começarão a ser instaladas a partir de dezembro em locais nos quais já existem conveniências para que o motorista esteja em um local seguro para fazer a sua recarga. Segundo ela, a ideia é que um aplicativo informe em tempo real se a estação está disponível ou se está ocupada, além da funcionalidade de reserva de horário para evitar filas.

Após a entrada em operação da rota, terá início a análise do comportamento das estações. Durante a execução do projeto, que se encerra em setembro de 2024, não haverá nenhuma cobrança pelas recargas.

— A legislação relacionada à cobrança de energia, atualmente, ainda não contempla esse tipo de situação. Hoje, apenas as concessionárias podem cobrar pela venda de energia — diz Alzenira.

ZH

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