Segmento de ônibus e caminhões dá sinais de retomada no RS
Após o choque causado pela pandemia, a fabricação de veículos automotores, reboques e carrocerias apresenta recuperação no Rio Grande do Sul. Um dos termômetros dessa retomada está no âmbito do emprego. O setor abriu 3.458 vagas com carteira assinada de janeiro a julho, salto de 171,8% ante igual período de 2021. Boa parte desse volume é carregado pelo segmento de caminhões e ônibus, que criou 1.797 vagas nos primeiros sete meses após queda no ano passado. Os dados são do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged), do Ministério do Trabalho e Previdência.
Dados do Índice de Desempenho Industrial (IDI-RS), da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs), também reforçam esse movimento. A pesquisa mostra que o nível de atividade do setor de veículos automotores cresceu 14,8% no acumulado do ano até julho. Especialistas apontam que o aquecimento do setor, além de fomentar o emprego, ajuda a economia como um todo, porque ativa série de cadeias de suprimento.
No âmbito dos caminhões, integrantes da indústria citam o aumento de produção de carrocerias e implementos para escoar a safra agrícola. No ramo dos ônibus, a recuperação sobre uma base deprimida dos anos anteriores é um dos fatores que explica o avanço nas contratações.
O economista-chefe da Fiergs, André Nunes de Nunes, afirma que o bom desempenho do agronegócio no país provoca demanda por equipamentos de transporte. Nos ônibus, ele cita alguns fatores, como necessidade de renovação de frota e avanço da circulação de pessoas, que estimula o setor de transporte coletivo de passageiros:
— O setor de ônibus, que ficou muito amassado nos últimos anos, tem uma retomada, um alívio neste ano. E o setor de carrocerias de caminhões responde muito à atividade mais aquecida na parte de grãos e também às exportações.
Dados da Fiergs reforçam a análise de Nunes no âmbito da participação do mercado externo dentro desse movimento. De janeiro a julho deste ano, veículos automotores, reboques e carrocerias anotaram o sexto maior volume de exportações no Estado, com US$ 597,6 milhões — alta de 68% em relação a igual período de 2021.
O economista-chefe da Fiergs afirma que a recuperação do setor de veículos automotores, reboques e carrocerias é importante dentro da busca por melhora na atividade econômica. Como é marcado por uma cadeia longa, esse ramo acaba influenciando a demanda por outros produtos, segundo Nunes:
— Esse setor tem sido o fiel da balança em termos de crescimento da indústria neste ano. Esse segmento consegue recuperar perda de outros ramos, como químicos, borracha e plástico, metalurgia e alimentos, que tiveram queda mais expressiva neste ano.
A recuperação desse setor reverbera em Caxias do Sul, na Serra, município com forte atuação na indústria metalmecânica. O vice-presidente de Indústria da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Caxias do Sul, Ruben Antonio Bisi, diz que o ramo ligado aos implementos de caminhões segue aquecido, mas apresenta situação estável na região ante o ano passado. Bisi destaca que a parte dos ônibus apresenta recuperação mais acelerada nesse momento.
— Agora em 2022, o mercado está voltando bem forte. De janeiro a julho, a produção de ônibus cresceu praticamente 30%. A Marcopolo, um dos grandes puxadores, cresceu 38%, porque também é impulsionada pelo mercado de exportação — salienta Bisi.
O dirigente diz que parte dessa reação ocorre diante da maior liberação de verba por parte das prefeituras para empresas de ônibus e de salto nas vendas de coletivos para a linha de turismo. Na parte do turismo, ele cita a busca maior por viagens por meio de ônibus diante de pressões em outros modais:
— Tem a questão dos preços dos combustíveis, para avião ou automóvel, que fez com que os passageiros voltassem para o ônibus nas ligações interestaduais e intermunicipais.
Tendência para os próximos meses
Dados da pesquisa industrial mensal, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), também mostram retomada no âmbito de veículos automotores, reboques e carrocerias. A produção industrial física desse segmento avançou 14,7% no primeiro semestre deste ano no Estado, conforme dados do levantamento de junho, que traz os números regionais mais recentes.
Com o avanço, o setor foi um dos principais responsáveis por deixar a indústria gaúcha no azul na primeira metade do ano, diz o economista-chefe da Fiergs, André Nunes de Nunes.
Ele estima que o setor de veículos automotores, reboques e carrocerias deverá seguir aquecido nesta segunda metade do ano. Caminhões e ônibus devem seguir com maior destaque dentro desse processo, segundo o economista:
— São segmentos ligados ao investimento, cadeias mais longas e com movimentos mais sustentáveis. Historicamente, a gente percebe que esses movimentos, quando ocorrem, permanecem por alguns meses.
O vice-presidente de Indústria da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Caxias do Sul, Ruben Antonio Bisi, reforça que a recuperação deve ocorrer com mais força no âmbito dos ônibus, com o segmento de caminhões apresentando estabilidade. Ele destaca que o avanço na produção na cadeia dos ônibus poderia ser maior em um cenário sem pressões no âmbito de insumos:
— Nós aqui temos vagas e não conseguimos complementar.
ZH