Um dos setores mais castigados pelos efeitos da pandemia de coronavírus na economia, o de bares e restaurantes segue avançando na retomada no Rio Grande do Sul. Com aumento no percentual de estabelecimentos fechando o mês no azul, o segmento também intensifica a contratação de mão de obra. No acumulado do ano até julho, o ramo de alimentação criou 3,1 mil postos com carteira assinada no Estado. O saldo positivo ocorre após o fechamento de 298 vagas no mesmo período do ano passado.
Os dados são do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged), do Ministério do Trabalho e Previdência. Especialistas apontam que a recuperação ocorre diante de maior circulação de pessoas e de uma demanda reprimida do período mais complicado da crise sanitária.
Economista-chefe da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Porto Alegre, Oscar Frank avalia que o desempenho do setor ocorre na esteira da volta da circulação e da confiança das pessoas. Flexibilização do distanciamento social e reabertura de atividades diante do avanço do combate à pandemia entram nesse processo, acrescenta.
— A gente vem acompanhando, nos últimos meses, o setor passando por esse processo de recuperação e retomada. Isso, no meu entendimento, muito se deve a essa melhora que a gente teve, sensível e significativa, no quadro sanitário, sobretudo a partir de fevereiro — analisa Frank.
Ele destaca que essa evolução poderia ocorrer em ritmo maior em cenário com menos pressão da inflação e de juros em elevação. Esses são alguns dos fatores que ancoram o avanço de bares e restaurantes, segundo o especialista. A alta nas contratações no acumulado do ano em 2022 mostra avanço em relação a 2021, mas ainda está longe de recuperar os postos fechados no mesmo período em 2020, marcado pelo primeiro choque da pandemia no país.
Cresce o índice de lucro
Dados do setor também mostram que o ramo de alimentação fora de casa está se aprumando nessa busca por recuperação. Pesquisa recente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) mostrou que 54% dos estabelecimentos gaúchos registraram lucro em junho. Esse é o maior índice do ano dentro do levantamento. O percentual de empreendimentos que fecharam o mês no prejuízo caiu para 19% – distante dos 60% registrados em janeiro.
O presidente da Abrasel no Estado, João Melo, afirma que os movimentos sazonais também ajudam o setor nesse processo de retomada.
— Tem uma recuperação que começou um pouco antes das férias de julho. As férias de julho também vieram para movimentar o Rio Grande do Sul. Pessoas passeando em outras cidades, pessoal vindo de outros Estados também para Gramado e para a Serra. Isso movimentou nosso sistema de restaurantes e turismo – salienta.
Melo destaca que o aumento no contingente de pessoas empregadas e a volta do trabalho presencial também são alguns dos fatores que ajudaram a aumentar o consumo em bares e restaurantes. Ele diz que a retomada no ramo também reflete em mais contratações:
— Estabelecimentos estão procurando pessoas para trabalhar. É um setor que tem uma dificuldade histórica de contratação, mas é um segmento que está buscando alternativas. Já passamos daquela fase de colocar direto alguém qualificado. Contratamos pessoas com menos experiência e oferecemos essa qualificação para que essa pessoa se desenvolva no trabalho.
Cenário
A Churrascaria e Galeteria Komka, no bairro São Geraldo, na zona norte da Capital, é um dos estabelecimentos que voltou a contratar. A administração do restaurante admitiu quatro funcionários – dois em 2021 e outros dois neste ano. No período mais crítico da pandemia, a empresa demitiu quatro colaboradores.
O proprietário do local, Edésio Komka, o Deco, 55 anos, afirma que as contratações ocorrem diante da melhora no movimento da casa desde a reabertura das atividades. Fechando o mês no azul, o empresário estima um cenário melhor no faturamento nos próximos anos.
— A gente está praticamente fechando no zero a zero. Conseguindo pagar nossas contas, o que já é um grande alento. Vamos precisar de uns dois anos pelo menos para conseguirmos quitar essas dívidas e retomar lucro — afirma.
ZH