A Polícia Civil realiza, nesta quinta-feira (6), mais uma operação contra um grupo que aplica o chamado golpe dos nudes. Os criminosos gaúchos seriam liderados por apenados e fizeram vítimas no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina — há suspeita de atuação em outros Estados.
As buscas e prisões desta quinta são coordenadas pela Delegacia de Esteio, que, no período de um ano, já realizou três grandes ações do tipo. A Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) também participa da ofensiva.
São 240 agentes que cumprem 39 mandados de prisão em sete cidades do RS (saiba mais abaixo) — entre os alvos, 32 seriam laranjas que agem nas ruas para sete apenados de cinco presídios no Estado. Até as 9h30min, haviam sido cumpridos 32 mandados.
A investigação está em andamento há cerca de um ano e, somente em três meses, período acompanhado pelos policiais, os investigados movimentaram R$ 2,5 milhões.
A delegada Luciane Bertoletti diz que a apuração começou quando uma vítima procurou a polícia ainda em junho do ano passado. Um empresário pagou R$ 8 mil para que não fosse divulgada uma troca de imagens íntimas dele com uma suposta adolescente. O golpe teria sido aplicado pelo familiar de um preso.
A polícia não divulgou o nome da vítima, mas revelou que se trata de um empresário do ramo alimentício de Balneário Camboriú, em Santa Catarina.
— Além desta vítima, confirmamos, durante o pedido feito na Justiça para o cumprimento das ordens judiciais, uma outra vítima de Flores da Cunha (serra gaúcha) e outra de Santo Augusto (noroeste do RS). Mas tem muitas outras que já identificamos e por isso já aviso que a investigação vai continuar — diz Luciane.
Movimentação financeira
Foram identificadas dezenas de contas bancárias que seriam usadas pelo grupo criminoso, mas 39 estão sendo bloqueadas judicialmente. A delegada diz que em somente uma delas foi verificada movimentação de R$ 400 mil. Todas juntas, somente entre janeiro e abril de 2021, tiveram uma movimentação financeira de R$ 2,5 milhões. Luciane diz que, após a análise de todo o material, o valor deve ser muito superior ao identificado até agora.
Segundo ela, chama a atenção que cada um dos 32 laranjas abriu, desde 2019, mais de 10 contas bancárias. Portanto, ao final da apuração, é possível que sejam mais de 400 as contas em bancos usadas pelos investigados.
Vínculo com facção
Além dos 39 mandados de prisão, os agentes cumprem 41 de busca e 39 de bloqueio judicial de contas. A operação é realizada em: Esteio, São Leopoldo, Novo Hamburgo, Sapucaia do Sul, Porto Alegre, Xangri-lá e Lajeado. Os nomes dos presos não foram divulgados.
O grupo criminoso teria vínculo com uma facção com base no Vale do Sinos. Os laranjas, segundo a delegada, seriam familiares, amigos e pessoas conhecidas dos apenados. Todos já teriam visitado pelo menos uma vez na cadeia cada um dos sete presos investigados.
— Esses laranjas são responsáveis por fazer depósitos e saques, transferências bancárias diversas para os presos. Mas também, por se passar por uma adolescente na troca de nudes, por se passar por pai da suposta garota ou por policial para realizar a extorsão da vítima — explica o diretor da 2ª Delegacia Regional Metropolitana, delegado Mario Souza.
No dia 22 de fevereiro deste ano, a Delegacia de Esteio coordenou uma operação contra o golpe dos nudes, com 22 presos que também exigiam dinheiro para custear falsos tratamentos psicológicos de adolescentes. No dia 30 de setembro do ano passado, o mesmo distrito policial prendeu 32 criminosos que movimentaram mais de R$ 5 milhões em golpes contra mais de cem pessoas no RS e em outros seis Estados.
O que é o golpe dos nudes
O golpe dos nudes ocorre quando um criminoso finge ser uma adolescente e mantém contato com homens mais velhos para trocar imagens íntimas. O golpista, então, simula que a situação foi descoberta pelos pais da jovem e levada à polícia, e passa a exigir dinheiro para que os diálogos não sejam expostos ou mesmo para que a investigação policial não tenha andamento.
Alguns estelionatários se passam por pais da suposta adolescente, outros por advogados da família e até por policiais ou delegados.
Para dar credibilidade às exigências e causar pânico nas vítimas, os criminosos chegam a montar falsas delegacias de polícia, onde fazem imagens internas simulando a tramitação de investigações e até a expedição de supostos mandados de prisão.
ZH
Foto: Ronaldo Bernardi / Agência RBS