Pesquisadores do Laboratório de Paleontologia da Universidade Federal do Pampa (Unipampa) apresentaram a descoberta de um crânio completo e partes do esqueleto do mais antigo grande predador terrestre da América do Sul. O novo fóssil de um Pampaphoneus biccai, que significa matador dos pampas, revela como eram os primeiros grandes carnívoros da América do Sul em uma época anterior ao surgimento dos dinossauros.
Os restos fósseis, que datam de cerca de 265 milhões de anos atrás, foram encontrados em São Gabriel, na Fronteira Oeste, e contêm um crânio completo e alguns ossos do esqueleto, tais como costelas e ossos do braço. O estudo foi desenvolvido em parceria com cientistas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), da Universidade Federal do Piauí (UFPI) e da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.
O artigo descrevendo o novo fóssil foi publicado na revista científica internacional Zoological Journal of the Linnean Society.
Trata-se do segundo exemplar da mesma espécie coletado por paleontólogos da Unipampa após a primeira descoberta de um Pampaphoneus, dez anos atrás, na zona rural de São Gabriel. O paleontólogo Felipe Pinheiro, da Unipampa, que coordenou as pesquisas, explica que o novo exemplar, descoberto em maio de 2019, é ainda maior do que o primeiro espécime de Pampaphoneus.
Por estar melhor preservado, o crânio do novo bicho, que mede 40cm, foi capaz de oferecer informações inéditas sobre como era o predador.
— O Pampaphoneus desempenhava o mesmo papel ecológico dos atuais grandes felinos. Tratava-se do maior predador terrestre que conhecemos para o Permiano na América do Sul. O animal possuía dentes caninos grandes e afiados, adaptados à captura de presas. Sua dentição e arquitetura do crânio sugerem que a mordida era forte o suficiente para mastigar ossos, assim como fazem as hienas de hoje em dia — afirma.
A espécie viveu pouco antes da maior extinção que a vida na Terra já testemunhou, há 250 milhões de anos. Os pesquisadores estimam que os maiores exemplares de Pampaphoneus poderiam chegar a quase 3 metros de comprimento e pesar cerca de 400 quilos. Conforme Pinheiro, o Pampaphoneus era um predador hábil, capaz de se alimentar de animais de pequeno a médio porte.
O paleontólogo Mateus Costa Santos, da Unipampa, ressalta o potencial do Pampa gaúcho para descobertas paleontológicas.
— É importante que estes fósseis permaneçam depositados em instituições próximas ao local da descoberta, como é o caso da Unipampa. Os fósseis, além de atrair o interesse para a ciência, possuem um importante papel na identidade local, no turismo e na geoconservação — completa.
ZH
Foto: Arte de Márcio Castro / Divulgação