Como o RS alcançou o menor número de registros de abigeatos desde 2010
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Ao longo de setembro deste ano, o Rio Grande do Sul teve 272 casos de abigeato, que é a subtração de animais em propriedades rurais. O total é 37% menor em relação ao mesmo período do ano passado e, quando comparado a toda série histórica, representa o menor número já registrado em um mês, desde 2010. Os dados são da Secretaria da Segurança Pública (SSP) do Estado.
A redução em setembro reflete uma série de ações que vem sendo realizada nos últimos anos no RS para enfrentar esse tipo de crime. Em 2016, o número de abigeatos alcançou o ápice no Estado. De janeiro a setembro daquele ano, foram 8.026 registros — média de 29,2 casos por dia. A situação levou à criação, em Rosário do Sul, de uma força-tarefa, na busca por frear os crimes rurais. A equipe era composta por um delegado e sete agentes policiais, além de dois agentes especializados em agropecuária.
— Vinha numa crescente dos crimes rurais, de abigeato, e chegamos no ponto máximo em 2016, com 10.481 registros para uma linha decrescente. Hoje, até o presente momento, estamos com 3,3 mil no ano, o que demonstra queda de mais de 60% ao longo desses anos — afirma o chefe da Polícia Civil, delegado Fernando Sodré.
— Houve conjunção de estratégias da Polícia Civil, da investigação dos crimes rurais, a partir de uma ação especializada, focando nas quadrilhas de abigeato, na cadeia, que não é só o furto e o roubo do animal. É toda a cadeia que envolve a carne (de origem ilegal). Que vem desde os frigoríficos com trabalhadores ilegais, os frigoríficos clandestinos, a receptação, a comercialização dessa carne. Tudo isso sendo atacado, os índices começam a baixar, como têm baixado no RS — diz o delegado Sodré.
Operação Agro-Hórus
Outra medida considerada essencial para reduzir esse tipo de crime foi lançada em junho do ano passado: a Operação Agro-Hórus da Brigada Militar. A ofensiva é voltada a reduzir os crimes típicos das áreas rurais e de fronteiras (contrabando e descaminho, por exemplo). Atualmente, a iniciativa está presente em 137 municípios das regiões Noroeste, Fronteira Oeste e Sul. São cidades que estão na rota das fronteiras com Argentina e Uruguai. Desde a criação, cerca de 7,7 mil propriedades rurais foram visitadas pela BM.
— Alocamos recursos extras de efetivo nessas regiões. Utilizamos o Batalhão de Choque e o Bope para apoiar os comandos regionais. Investimos no patrulhamento rural, na medida em que foram adquiridas viaturas novas para as Patrulhas Rurais. Nossa inteligência trabalha em sinergia com a Polícia Civil, com as Decrabs, fazendo com que ações de cumprimento de mandados sejam mais efetivas. Temos cadastrado as propriedades rurais, e rotineiramente realizado visitas de maneira a prevenir esses crimes — explica o comandante-geral da BM, coronel Cláudio dos Santos Feoli.
No caso das patrulhas nas áreas rurais, o foco é manter proximidade com os produtores. Por isso, foram adotadas estratégias como o mapeamento das propriedades. Em Viamão, na Região Metropolitana, por exemplo, vêm sendo usado o georreferenciamento. Quase duas mil propriedades foram mapeadas dessa forma, com intuito de facilitar a prevenção dos crimes e os atendimentos, quando necessários.
Ataque às quadrilhas
As operações desencadeadas nos últimos anos em parceria entre os órgãos de segurança têm como foco especialmente o combate às quadrilhas. As investigações conseguiram detectar que o crime se especializou no campo. As organizações investigadas têm funções estabelecidas desde a logística, o roubo de veículos para transportar os criminosos e os animais furtados e os executores dos crimes, além dos locais de abate.
São estruturas hierarquizadas, com divisão de tarefas, e um sistema de receptação articulado. A maior parte dos casos tem como foco o abate clandestino, embora também haja registros de animais vivos, que são revendidos. O produto fruto do abate irregular tem como destino diferentes polos do Estado, como a Região Metropolitana, a Região Sul e a Fronteira.
— Há uma gama de outros crimes no entorno do abigeato, como receptação, crime fiscal, de saúde pública. É uma cadeia criminosa que acaba impactando na economia do Estado, na saúde pública e na vida desses produtores. O foco nas quadrilhas, nessa rede criminosa, é essencial. É isso que temos conseguido fazer, e obter esse resultado de baixa considerável — explica o delegado Sodré.
Além das quadrilhas especializadas, há também grupos menores que atuam nesse tipo de crime de uma forma considerada mais amadora. Em muitos casos, os animais são abatidos no próprio local do furto.
— Tem um fator que poucas pessoas se dão conta, mas que acabamos enfrentando com alguma frequência, que é a crueldade com os animais. Quando tem o chamado abigeato de garupa, que e aquele que é abatido na propriedade e levado aos pedaços, muitos animais ficam agonizando, o que é uma selvageria. As nossas equipes têm trabalhado para coibir essa prática — afirma o comandante-geral da BM, coronel Feoli.
Registros
Outra medida foi tomada neste ano na tentativa de agilizar as informações sobre os crimes. Durante a última Expointer, a Polícia Civil anunciou o lançamento da Delegacia de Polícia Online do Agro (Agrodol), que permite o registro de abigeatos e outras ocorrências relativas a fatos transcorridos nas zonas rurais. É possível acessar o serviço por meio deste link.
A Operação Agro-Hórus
A ofensiva, realizada pela Brigada Militar em integração com outros órgãos de segurança estaduais, federais e internacionais, completou um ano e três meses em atividade no início de outubro. Até o período atual, esses são os resultados obtidos:
7,7 mil propriedades rurais visitadas
8 máquinas agrícolas recuperadas
R$430,8 mil apreendidos
1,9 mil presos
306 foragidos recapturados
321 embarcações fiscalizadas
Itens apreendidos*
402 armas
9,4 mil munições
2,2 mil quilos de drogas
81,4 mil quilos de carne
* Há ainda diversos produtos apreendidos como grãos, cigarros, agrotóxicos e bebidas, entre outros.