A projeção de colheita menor é apenas um dos desafios que deve acompanhar o agronegócio brasileiro ao longo do ano. Clima desfavorável, custo do crédito, desvalorização de commodities e influência do cenário internacional são pontos que estarão no pano de fundo do setor.
A seguir, veja algumas tendências e desafios para o agro em 2024:
Efeitos do clima
Depois de um ano fortemente marcado pela influência do El Niño e impactos na produção agropecuária, a tendência é de que o fenômeno siga atuando no próximos meses, alterando o regime de chuvas e as temperaturas, até perder intensidade. Institutos internacionais de monitoramento climático indicam que o El Niño estará presente na safra 2023/24 pelo menos até o final do outono. No RS, conforme boletim Conselho Permanente de Agrometeorologia Aplicada (Copaaergs), o trimestre até março tende a ter chuvas irregulares, com volumes ligeiramente acima de média, e eventos com tempestades, vento forte e granizo.
Preço das commodities
Após queda forte nas cotações dos principais grãos produzidos no Brasil no ano passado, a tendência é de estabilidade nos preços agropecuários em 2024. As recuperações, no entanto, não devem ser expressivas, alterando pouco o quadro de preços de 2023. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) fala em uma “recuperação tímida” na valorização dos grãos.
Um dos motivos citados pelos especialistas é que o clima seco deve prejudicar a safra no Centro-Oeste do país, reduzindo a safra brasileira como um todo. Rodrigo Feix, pesquisador do Departamento de Economia e Estatística da Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (DEE/SPGG), lembra que a queda nas cotações no último ciclo contribuiu para reduzir a rentabilidade, afetando a disposição dos produtores para investir.
Juros altos
As projeções econômicas para o ano apontam para um cenário de inflação controlada e de novos cortes na taxa básica de juros. Na estimativa da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), a Selic deve encerrar 2024 em 9,25% ao ano. O patamar, no entanto, ainda é considerado elevado para alguns setores. No segmento de máquinas agrícolas, o custo do crédito pode dificultar as vendas e o número de pedidos.
O setor recuou 15% no ano passado. Cláudio Bier, presidente do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas do RS (Simers), frisa que há necessidade de melhora nas condições de financiamento do ano safra 2024/2025 para garantir que a indústria produza a pleno e para que os agricultores façam investimentos.
Contexto internacional
Outros temores para o ano vêm do cenário internacional. A crise na Argentina, importante parceira comercial do Rio Grande do Sul, já respinga no ambiente econômico gaúcho. Também há dúvidas sobre a conjuntura na China e a possibilidade de uma recessão global. Segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), só o país asiático, principal destino das exportações do agro brasileiro, deve reduzir sua taxa de crescimento de 5,1% em 2023 para 4,6% em 2024.
Os conflitos e as tensões internacionais também podem implicar aumento de barreiras comerciais, além de desorganização na cadeia global de suprimentos. Segundo a Farsul, além da queda no preço das commodities, o ano pode ser de redução na demanda de produtos como a carne e o algodão e da piora na escassez do crédito, o que impacta o patamar do câmbio e, consequentemente, a cotação dos produtos agrícolas.
ZH