Os recentes anúncios de investimentos das principais montadoras de veículos do país animam as indústrias ligadas ao setor no Rio Grande do Sul, que aguardam avanço na produção e nos negócios. Integrantes do ramo metalmecânico projetam impacto em segmentos como os de autopeças e de ferramentaria, dois fornecedores de itens essenciais na construção de veículos. Diante desse cenário, projetam início dos efeitos entre esse ano e 2025. Estimativa de aquecimento na produção pode repercutir na formação e na contratação de profissionais no Estado, segundo especialistas. Eles reforçam que é necessário maior detalhamento dos planos para ter clareza sobre repercussão.
Principal polo da indústria metalmecânica e de autopeças no Estado, a região da Serra já está preparada para atender eventual aumento de demanda das montadoras dentro desse plano de investimentos, segundo entidades que representam empresas do setor.
O presidente de Indústria da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Caxias do Sul, Celestino Loro, afirma que, além de potencial para atender às necessidades das fabricantes em peças e componentes, a região tem capacidade de receber plantas fabris dessas montadoras, se for o caso. Nesse sentido, o dirigente destaca que a indústria do Estado pode absorver pedidos em diversas áreas:
— A região tem todo um ecossistema para atender, não só em autopeças ligadas aos metais. Tem uma gama de produtos e serviços que podem ser aplicados no automóvel, como componentes plásticos, software, têxteis. Tem uma disponibilidade de recursos na região muito forte, capaz de suprir plenamente todo o fornecimento necessário para esses investimentos.
Loro afirma que o clima é de otimismo e preparação na região, no aguardo dos desdobramentos dos investimentos anunciados. Entre os principais segmentos beneficiados estão os de autopeças, como itens na linha de freios, e de ferramentaria, responsável por moldes e matrizes de itens que formam os automóveis, segundo o presidente. Esse entusiasmo pode repercutir em contratações nesses ramos em 2025, diante do início de impacto nas linhas de produção, segundo Loro.
Impacto em etapas
Somados, os valores anunciados pelo ramo automotivo somam R$ 117 bilhões no país até 2033 (veja no quadro abaixo). O vice-presidente de Relações Institucionais do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul e Região (Simecs), Ruben Bisi, afirma que os aportes das montadoras devem impulsionar indústrias do Estado e da região em produção e desenvolvimento.
Esse movimento ocorre em duas etapas principais. A primeira ocorre na área de ferramentaria, segmento responsável por elaborar matrizes para fabricação de componentes que moldam partes dos veículos, como painéis.
— Já sentimos aqui o setor de ferramentaria bastante eufórico por destravamento de investimentos em desenvolvimento de produtos novos — destaca Bisi.
Em um segundo momento, com as linhas de produção de veículos respondendo aos planos de investimentos, o segmento de autopeças ganha fôlego para suprir as necessidades das fábricas, segundo o dirigente.
Bisi observa que esses estágios reforçam a necessidade por mão de obra especializada, o que abre caminho para incentivos em formação de profissionais no Estado.
Ainda de acordo com o vice-presidente do Simecs, como a indústria da Serra atua em itens que são utilizados tanto em veículos a combustão quanto elétricos ou híbridos, como freios, plásticos e tecidos, não é necessária uma revolução nas plantas das principais empresas fornecedoras de peças.
A Sulbras Moldes e Plásticos, com sede em Caxias do Sul, é uma das companhias que aguardam esse aquecimento. No setor automotivo, a empresa produz diversos tipos de peças e componentes plásticos injetados para itens como painel de instrumentos, paralamas e parachoques. A movimentação das fabricantes mantém demanda por componentes, criando espaço para expectativa de investimentos na empresa, segundo Leocádio Nonemacher, CEO da Sulbras:
— Os investimentos que deveremos realizar a partir do próximo ano são voltados a uma expansão gradual de acordo com o que observarmos na evolução das demandas. São relacionados à infraestrutura fabril, máquinas e equipamentos.
Nesse primeiro momento, o anúncio não tem impacto direto em contratações e expansão da Sulbras, segundo Nonemacher. No entanto, esse movimento pode ocorrer nos próximos anos caso o investimento das montadoras repercuta em aumento nas vendas em um cenário econômico favorável.
O economista-chefe da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs), Giovani Baggio, afirma que investimentos dessa magnitude são importantes no país, mas reforça que a fase ainda é de anúncios. É necessário maior detalhamento dos planos para medir impacto no Estado, principalmente no âmbito da General Motors (GM), que tem complexo em solo gaúcho, segundo Baggio:
— É cedo ainda para dizer o quanto a gente vai ser beneficiado.
Baggio justifica essa análise citando que os fornecedores que estão próximos das fábricas costumam ser mais beneficiados com investimentos das montadoras. Portanto, se os recursos ficarem centralizados em outras regiões do país, o Rio Grande do Sul pode perder competitividade em razão de localização e logística.
Necessidade de atualização e competitividade
O diretor de Desenvolvimento de Negócios da consultoria Jato, Milad Kalume Neto, afirma que os investimentos anunciados pelas montadoras são respostas às necessidades de atualização de produtos, visando a legislação e segurança, e de reforçar a competitividade em um mercado que passa por transição energética. Além disso, entra a melhora da atividade econômica no país, que abre espaço para investimentos, segundo Neto:
— É uma conjunção de todos esses fatores com o atual cenário econômico do país, que apresentou bons resultados. Tem uma perspectiva de melhora nos indicadores econômicos no segundo semestre, com destaque para a taxa de juro, que está caindo a cada revisão da Selic.
Neto afirma que o combo formado por cenário econômico melhor e mais competitividade abre espaço para veículos de entrada com valores menores. Para o Estado, Neto afirma que o tom de otimismo é justificado pela presença da fábrica da GM e da força no setor metalmecânico.
A reportagem tentou detalhar a parcela dos investimentos da GM que deve ser destinada ao complexo de Gravataí, mas a empresa ainda não abriu esse dado. O consultor estima aporte importante da companhia em solo, seja pela necessidade de atualizar plataformas já existentes ou de eventual inclusão de novos produtos na linha de produção.
Principais planos de investimento
Stellantis
- R$ 30 bilhões de 2025 a 2030
- O que é: responsável pelas marcas Fiat, Jeep, Peugeot e Citroën, a montadora prevê lançar 40 produtos, entre novos modelos e renovação do portfólio atual, incluindo seus primeiros carros híbridos produzidos no país.
Toyota
- R$ 11 bilhões até 2030
- O que é: a montadora japonesa vai ampliar a produção em Sorocaba, em São Paulo, e fechar a unidade de Indaiatuba, também em São Paulo.
Hyundai
- R$ 5,5 bilhões até 2032
- O que é: a coreana vai investir na fábrica de Piracicaba (SP).
Volkswagen
- R$ 16 bilhões até 2028
- O que é: a alemã aposta na produção de carros híbridos no país.
General Motors
- R$ 7 bilhões até 2028
- O que é: fabricante americana investirá em modernização das fábricas no país. A reportagem tentou detalhar a parcela que deve ser destinada ao complexo de Gravataí, mas a empresa ainda não abriu esse dado.
BYD
- R$ 3 bilhões
- O que é: chinesa vai operar três fábricas em Camaçari (BA), com capacidade para produzir 150 mil veículos por ano.
GWM
- R$ 10 bilhões até 2033
- O que é: empresa chinesa comprou fábrica em Iracemápolis (SP).
Caoa
- R$ 4,5 bilhões até 2027
- O que é: grupo brasileiro anunciou acordo de importação e produção de carros com a Hyundai.
Renault
- R$ 5,1 bilhões até 2027
- O que é: dentre os investimentos da empresa francesa, um será no Complexo Ayrton Senna, em São José dos Pinhais (PR), visando à produção de um novo C-SUV.
Nissan
- R$ 2,8 bilhões até 2025
- O que é: japonesa vai investir na fábrica de Resende (RJ).
ZH
Foto: TOYOTA / Divulgação