No RS, 93,75% das categorias tiveram reajuste salarial acima da inflação em 2024
A recomposição salarial registrou cenário positivo no Rio Grande do Sul em 2024. No acumulado do ano até julho, 93,75% das categorias pesquisadas no boletim Salariômetro, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), apresentaram reajuste acima da inflação no Estado. O estudo usa o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) como base de inflação. Esse é o principal índice utilizado nas negociações entre empresas e trabalhadores.
Inflação controlada e mercado de trabalho estável em boa parte do início do ano ajudam a explicar esse movimento, segundo especialistas.
Entre janeiro e julho deste ano, foram anotadas 1.305 negociações — em um recorte de 16 categorias que tiveram 10 negociações ou mais. Desse total, em 15 categorias, elas ocorreram em patamar acima da inflação, e em uma delas, no mesmo volume. O modelo atual do Salariômetro detalha apenas as atividades com pelo menos 10 negociações no período para evitar distorções em algum acordo específico.
O dado da Fipe mostra que a maior parte dos ganhos ficou na casa de 1%, não descolando muito da inflação. Com isso, reajuste real mediano foi de 1,16% no período.
O Salariômetro usa dados de todos acordos e convenções informados pelas categorias profissionais na página Mediador, do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Ou seja, os técnicos da Fipe tabulam as cláusulas negociadas para chegar aos reajustes apresentados no levantamento.
O professor sênior da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do Salariômetro da Fipe, Hélio Zylberstajn, afirma que a inflação em patamar menor e a estabilidade do mercado de trabalho são fatores que criam esse ambiente propício para os reajustes:
— A taxa de desocupação continua caindo e isso significa que os trabalhadores têm maior poder de barganha. Então, a empresa também se vê pressionada a conceder aumento real. Um fator cria espaço para o outro.
O professor Maurício Weiss, do Programa de Mestrado Profissional de Economia (PPECO) da UFRGS, destaca que o crescimento da economia nos últimos anos preparou terreno para acordos positivos no âmbito salarial, principalmente nos acordos realizados antes da enchente.
— O melhor crescimento econômico possibilita elevação do lucro das empresas, fazendo com que seja compatível com os aumentos dos salários acima da renda.
Impacto da inundação
O supervisor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) no Estado, Ricardo Franzoi, pontua que a inundação não teve um grande efeito sobre os acordos e convenções. Períodos das tratativas e necessidade de reter mão de obra são alguns dos motivos que explicam esse cenário na avaliação de Franzoi:
Franzoi também não identifica movimento de postergação de acordos e convenções coletivas exclusivamente em razão da enchente.
Entre os ramos apresentados pela Fipe, o setor de limpeza urbana, asseio e conservação apresenta o maior reajuste (veja no gráfico acima). O supervisor técnico do Dieese afirma que o fato de esse ramo contar com salários mais próximos do mínimo nacional e ter realizado negociações no início do ano abre espaço para aumento real maior.
Próximos meses
O coordenador do Salariômetro da Fipe, Hélio Zylberstajn, estima que o cenário das negociações salariais tende a seguir estável nos próximos meses, com reajustes próximos ao INPC. No Estado, acredita que a dinâmica depende do vigor da retomada pós-inundação:
O professor Maurício Weiss avalia que a tendência de inflação ainda sob controle é um fator que mantém cenário favorável para ajustes próximos ou acima da inflação na segunda metade do ano:
— Como o crescimento econômico continua acontecendo e a taxa de desemprego continua caindo, creio que a tendência é manter os salários acima da inflação. Ao mesmo tempo, a inflação continua abaixo do teto da meta, que é outro fator que auxilia no aumento real dos salários.
ZH